terça-feira, 20 de agosto de 2013

Sabor.

Tratou com desdém e falso desprezo o calor selvagem do amor sem barreiras, aquele descompromissado e sem maiores explicações. Amor sim, se já havia sido antes então não poderia mais deixar de ser, pelo menos de acordo com sua vã filosofia de boteco.
O tal do sentimento transformou-se em alguma coisa inominável, não havia amizade ou fraternidade, só o carinho da lembrança, que não era suficiente para instigar conversas maiores do que as baseadas em alfinetes e provocações.
As memórias que restaram do passado recente foram predominantemente carnais e desprovidas de sensibilidade. Talvez a natureza da relação anterior não fosse das mais saudáveis afinal. Tudo não passou de um flash rápido e desavergonhado, claro como a luz fervilhante do meio-dia, que mostrava sem dó nem piedade cada traço marcado, manchado, arranhado, mordido... era sempre sobre o corpo e o que se podia aproveitar dele, e isso nunca seria o suficiente.
Seu corpo era recipiente, mais meio vazio do que meio cheio e um brinde aos pessimistas. Precisava completar-se com mais do que sangue e suor, já que a vulgaridade, apesar de ser um de seus talentos natos, não era o campeão dentre suas predileções. Gostava do amor romântico e patético, do platônico e desesperado... amava amar.
Enganou-se desde o inicio, provavelmente sabendo do erro que estava cometendo. Estava se enganando de forma lúcida, dentre os enganos o mais perigoso.
As apostas sempre foram de tiros no escuro, baseadas única e exclusivamente no fervor dos primeiros olhares. Um grande erro para um devoto e declarado fã de olhos bonitos, fossem da cor ou formato que fossem, e esse erro lhe custou e voltaria a lhe custar várias noites em claro, várias delas.
Toda fruta mordida a partir de então acabaria tornando em nostalgia o suco natural, inundando o paladar com o sabor doce e indescritível da mulher, fruta por excelência. Toda brisa e garoa a partir de então se tornaria em lembrança de como é a mulher, que como o tempo é sempre imprevisível e difícil de lidar... nunca se está preparado o bastante. Toda embriaguez a partir de então seria memorável pela dor de consciência póstuma, como as dores de cabeça que vem junto com a ideia de compromisso, lindo no começo, bonito no meio, horrível no final.

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