terça-feira, 27 de agosto de 2013

Previsibilidade Dual

Gritei tão alto que os olhos saíram das órbitas por meio instante, quase ninguém escutou. Não foi com a garganta que berrei, mas sim com o pensamento, isso justifica a falta de público. Brado interminável e furioso, com direito a eco subconsciente, fazendo vibrar os portões energéticos e os pontos acupunturistas.
Foi do fundo do peito, afiado por pedaços pontiagudos e angulosos de um coração quebrado, lixados no bom e velho 'pedra contra pedra'.
Tudo em volta até então era ensurdecedor, e eu precisava que o mundo se calasse pelo menos por alguns minutos. Então gritei sem dó, para rebater os outros vários barulhos infernais que insistiam em não calar por vontade própria. Alguém precisava botar ordem no galinheiro emocional, certo?
Não foi educado e pomposo como de costume. Notei que o resto se assustou, e isso me deixou contente de certa forma. O vermelho e o branco, vulgo resto, ficaram mudos e perplexos, boquiabridos com tal ato de revolta. Afinal de contas, eu havia passado a vida toda dando ouvidos para um ou para outro, ninguém esperava um surto no meio do caminho, nem eu e nem eles.
O ''sim'' e o ''não'' sempre foram as opções cabíveis e viáveis, sem direito nenhum a qualquer tipo de meio termo, eu estava cansado disso. Chifres ou auréolas, asas brancas ou pretas, yin ou yang, DC ou Marvel, Playstation ou Nintendo, céu ou inferno... haja saco.
O limbo parecia libertador de uma maneira bizarra, purgatório por excelência ou por falta de vontade em seguir um caminho tão pragmaticamente programado. Toda dualidade do mundo se tornou maçante pela falta de opção. Sendo mais coerente na afirmativa, retifico: Milhões de caminhos, mas finais reduzidos ao dual.

Qual o problema afinal em ser por ser, sem se preocupar com o enquadramento? Onde fica a beleza do talvez? Não saber com certeza absoluta é crime? Pecado?

O espírito clama por liberdade, que só é livre até a página dois. Complicado sim, por ''A'' mais ''B'', e nem cogite outra letra qualquer do alfabeto, a menos que tenha um par oposto pra oferecer. O refrão repete, pra não ficar só na primeira vez, e que se mantenha em números divisíveis por dois. Pule sete ondas no ano novo para se rebelar contra a inocência cristã do seis ou do oito. Seja reto nos caminhos ou ande torto até o tormento.
O mundo pede em suas preces por mais reticências e vírgulas! O caminho fica realmente entediante quando é corrido e sem pontuação, mas principalmente quando é previsível. O plural é idealizado como perfeito, por isso o singular está sempre em depressão. A arte está na tristeza de ser só, por mais rondado de gente que se esteja. Bonito mesmo é ser sozinho e tristonho. Por isso torço pelos artistas, e principalmente torço mesquinhamente para que eu mesmo não acabe me estereotipando na categoria.

Melhor burro acompanhado do que inteligente solitário.

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