E a minha balaclava de tanta melodia e som bonito que escutou, acabou que se tornou balaclave, indecisa porém sobre a nota que iria sustentar. Talvez sol, talvez dó, talvez fá... não importa. Continuará sendo máscara ou mesmo capacete, tomando para si as pancadas rotineiras e doloridas, sendo escudo por falta de lança ou espada.
Proteção por notas jogadas e compassos mal formados, tempos quebrados, como todo relógio que se digna a bater alarme na hora simbólica de sempre. Barreira melódica, meio melodramática quando se arrisca pelas terras da literatura, meio melancólica ao se enquadrar tão bem nas dores da defesa. É tanto melô que acaba melando toda a ideia dura e tensa que existe acerca da linha de frente, tornando-a então grudenta e pouco usual. Imputaqueoparívelmente cai por terra toda a famigerada proteção balaclávica, e se me permite dizer: que os escudos vão para os quintos dos infernos!
Sem escudos e maiores defesas a balaclave entrou em greve e se recusou a melodiar. Sua inspiração até então foram as pancadas que recebeu na vida, Musas ingratas. Ao invés de soprar cantorias preferiu cuspir gritos e desordenações caóticas, ensurdecendo o mundo com desarmonia e desafinação, em escalas dissonantes até para a música mais atonal e experimental possível.
_Meu Deus, parem com a cacofonia! - exclamou o Querubim, que era criança ou anjo, ninguém sabia dizer com certeza absoluta. - por falta de motivos para cantar, te presenteio com o dom da tristeza por pesar, e mesmo quando só tiveres motivos para rir, mesmo nos momentos mais contentes e felizes, ainda assim vais pensar nos males alheios e irá toma-los para si. O Conforto não fará mais parte de sua vida, sem chances. Toda e qualquer chance de sorriso virá carregada num fardo imenso de agonia. Sentirá a dor aguda de cada coração de cada pessoa que lhe pousar os olhos. Fará de qualquer sentimento, seu ou não seu, seja ruim ou seja bom.. qualquer alarde que vier de qualquer peito, tudo será música para seu diafragma e sua cabeça. Assim como tudo será música para meus ouvidos, consequentemente para todos os outros ouvidos, bem treinados ou não, tudo será motivo para que sua voz saia afinada, cheia de vontade e inspiração. Essa é sua maldição ou sua bênção, a única certeza é que o fato se categoriza como sina, e tudo só depende de você e da bendita relatividade do seu SER.
Encarei da forma que pude, acho que não tive escolha, ou melhor, não tenho. Tomei para mim o trovadorismo e passei a transformar o 'pensar' num 'cantar', mesmo que meio sem jeito. Vomitei ideias de todos os tipos, timbrando palavras em cantigas sem pé nem cabeça, soltei o ar e assobiei afinado demais, mas acho que não tive escolha, ou melhor, não tenho.
Eis que me mandam por psicografia uma ou outra mensagem desconfortável, ás vezes até músicas inteiras, textos e fragmentos, tais como:
''Apolo veio acompanhando um Dionísio embriagado, rumavam à Terra, juntos e enamorados em paixão sórdida e fugaz. Deram de presente ao mundo o primeiro fruto de união homo-erótica, existiu então a Boêmia, que fez da felicidade popular sua maior missão, e para isso desmembrou-se em pontos de luz sobre pessoas distintas, que não teriam direito a momentos de paz. Os artistas então se tornaram uma classe em ascensão, fazendo de sua dor um orgasmo para o bom entendedor. ''
Falar em tom narcisista já se torna impossível, por mais íntima que seja a mensagem. As pessoas vão se enxergando no meio de interpretações pessoais, descabidas ou não, continuam a se procurar em cada linha escrita. As palavras ludibriam o ego sem vergonha de cada um que queira prestar atenção no que lê, escuta ou admira.
A Balaclave está de volta ao seu devido lugar, tomando pancada atrás de pancada, tornando o baque em canção. Máscara de chumbo, cabeça de telhado... no fim é tudo a mesma coisa.
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