Engraçado pensar que seu trabalho auto-imposto era, de certa forma e parcialmente, justamente "fazer as pessoas sorrirem". Além disso, dicotômico como tudo em sua vida, também fazia as pessoas enxergarem problemas e pensarem com as próprias cabeças, choque de realidade com poesia e melodia, era o bonito avassalando o concreto, e ele gostava disso. Pensava sempre um passo a frente, mas vivia alguns passos atrás, longe, observando. Era capaz de entender todas as dores, secar todas as lágrimas de todas as pessoas e ainda usar palavras ricas e inusitadas para o consolo das lamúrias alheias, mas o problema consigo mesmo era bem maior.
Pensar em ajudar a si mesmo era como entrar num labirinto cujo chão fosse areia movediça, era perder tempo e vitalidade, não valia a pena. Preferia pensar em como ajudar os outros, e se conseguisse, ainda poderia continuar odiando seus sorrisos.
Pensar em ajudar a si mesmo era como entrar num labirinto cujo chão fosse areia movediça, era perder tempo e vitalidade, não valia a pena. Preferia pensar em como ajudar os outros, e se conseguisse, ainda poderia continuar odiando seus sorrisos.
Sua maldita máscara, pesava como o chumbo que era e abafava o som de qualquer pedido de socorro que pudesse surgir vindo de dentro. Era bonita e simpática, com sua curva de sorriso moldada de forma quase natural... mas era um fardo venenoso e auto-imune. Matava devagar, discretamente, engolindo a realidade do ser e enterrando o pobre homem em concreto teatral. Não
que houvesse de fato qualquer pedido de socorro, mas apesar de dolorido consciente,
o homem da máscara intransponível tinha complexo de mártir e assim
sofria por que precisava. Jamais gritaria por ajuda, essa é a verdade. Bem que ele queria ter a posse de uma máscara de
vidro como todos os outros, mas cada Cristo nasce com a cruz que aguenta
carregar.
Além disso tudo, em contrapartida, a arte agradava e era admirada mesmo sob todo peso do chumbo, ele mergulhava de cabeça nessa daí. A tal da arte trazia o conforto da ideia de que "o espinho e a flor podem conviver numa boa, de forma equilibrada" - era um alívio...
Amém.
Mesmo que dolorosa de usar e pesada demais, a máscara agora era colorida e cheia de versos, por debaixo dela, existia um meio sorriso, ou pelo menos um bom sorriso em potencial, o que já seria um bom começo.
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