segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A Melancolia D'ela, Resquícios de Sujeira

Deitou a cabeça no primeiro ombro que achou vago, os olhos deitaram lágrimas também e transformaram o mesmo ombro em  um bom tanto de tecido molhado. A camiseta se arruinou em água salgada, como que para combinar com o coração em ruínas. Era um alguém qualquer, servindo de poste para apoio, todos precisam de apoio afinal de contas, principalmente depois da primeira derrota. Recompensaria o infeliz com palavras vazias do tipo ''não sei o que eu faria sem você'' ou coisa do gênero - era mentira pura, simplesmente acharia outro ombro qualquer se não o achasse antes.
A melancolia veio bem a calhar nos momentos de embriaguez que se seguiram, e embriaguez que se preze trouxe consigo a inconveniência. A humilhação autoimposta veio em fases: Primeiro o ataque nervoso, depois a ilusão do contentamento e por fim a depressão pós mágica. A nova felicidade viria logo em seguida, pelo menos é o que estava no contrato. O mundo parou o giro nos três quartos finais do final feliz, ela não era capaz de lidar com isso.

Parecia quase combinado, o tempo vagarosamente se espreguiçou enquanto tudo acontecia.

Sofreu em silêncio inverso, gritando ao mundo falsa felicidade e contentamento. Ela não estava acostumada a perder e até então o mundo era seu quintal. Até onde a vista alcançasse tudo era flor e beleza nos campos injustos da vida sentimental e amorosa, que se mostrou traiçoeira e cheia de má fé. Tentou incessantemente culpar o pobre miserável, procurou enxergar trevas onde não existia escuro além de tons grafite... quase chegou a acreditar numa verdade alternativa e confortável, mas seu discernimento era maior que isso, o que piorava a melancolia.

''Como pôde acontecer? A entrega foi completa! Me expus, me doei... inteira.''

Ela não entendeu que ele fez o melhor que pôde. Ele lamentava os machucados que havia causado, e como lamentava.

''Desde quando lamentação cura ferida?''

Sentia o peso da responsabilidade, toda a instabilidade dela era sua culpa e ele sabia. Sabia também que não ajudaria em nada se manter bonito e presente, a solidariedade seria venenosa, então preferiu se ausentar em blocos de gelo. Se disfarçou de esquimó e foi frio o quanto conseguiu: ''melhor que me odeie do que me ame sofrendo''. - Não parecia certo, mas a relatividade da resposta era ensurdecedora, a pergunta era vaga demais! Gritava alto, principalmente devido ao fato de que o que à feriu foi a verdade pura, e não existe justiça maior do que isso.

A verdade é que nunca houve mentira, e quando o que deveria ser ''para sempre'' se tornou um ponto final, tudo ficou feio e putrefaço.

Ela viveu então o resto de seus dias, ele viveu os dele. Não houveram mais sorrisos trocados entre ambos, os olhares foram para sempre resumidos a espiadelas. Ela voltou a ser feliz, ele continuou tentando achar seu caminho, não sei se consegui.

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