A pior surra que se pode levar é a surra de palavras. O ouvido é o canal de entrada para o maior e mais dolorido tipo de enxurrada de golpes que a sua alma pode chegar a levar. É quando você recebe esse tipo de sova que se dá conta de que um dedo na quina da mesa, um murro espatifando o nariz ou mesmo uma perna quebrada não são lá grandes coisas.
Todo ser humano é fadado a vida que escolhe para si, mas além disso acaba levando o bônus de ter que lidar com a vida e sentimentos de outras pessoas. Já não é fácil viver pra si, muito longe disso no geral, mas ter que viver para outro alguém (ou outros alguéns) acaba inevitavelmente sendo mais complicado, e como a vida é resumidamente um punhado de dores e amores, doloroso também.
Os motivos para cada qual vão variar, mas invariavelmente as dores se fazem presentes. Algumas maiores que outras, mas sempre em sequência e nunca dando folga o suficiente para que se pense que já se está pronto para o próximo momento de sofrimento. Certamente que é por isso que se busca tanto o prazer imediato das substâncias, é tudo pela fuga. Sair da própria realidade por alguns instantes trás alívio, e se existe alguma coisa que uma criatura em dor precisa é de alívio.
Acontece de vez em quando entre alguns menos afortunados um esburacamento de essência, onde se formam valas na integridade da personalidade, fazendo ruir aos poucos (ou aos muitos dependendo do caso) a personalidade e a motivação de se ser o que se é. O desmotivo trás o questionamento sobre a própria existência e seus para quês e porquês e se já falta convicção no mundo para com as razões pelas quais o ser humano habita a terra, imagine o grau da catástrofe de um ser humano se sentindo inadequado a realidade já lisérgica e desmotivada da própria espécie.
Assim alguns procuram bons motivos para estarem vivos, sejam missões de vida, seja ajudar outras pessoas, seja a vontade de Deus, trabalhar, simplesmente viver por estar vivo... as razões são infindáveis, mas nenhuma chega a ser realmente palpável o bastante para o desmotivado, esse aí é uma criatura difícil. Quando o breve sopro de vida que lhe foi concedido deixa de ser aproveitamento para se tornar obrigação moral e ética para com os seus iguais e queridos, alguma coisa certamente está errada.
Questionamentos são naturais, é claro, a curiosidade é natural ao homem, mas com o questionamento incessante vem também o descontentamento com as falhas, e, ao reparar na quantidade e profundidade das falhas do mundo a tristeza chega e bate forte no peito. E daí nascem os poetas e filósofos, os pensadores, os músicos, os bêbados, os suicidas, os padres, os monges e eu, sempre refletindo mas nunca chegando em lugar nenhum.
Chegar onde afinal, se no fim das contas tudo o que construímos e criamos fica pra poeira?
quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
...
Entre morcegos e abutres
os tucanos que me assustam
tanto quanto os petralhas
todos rindo feito gralhas
as hienas se fartando
da carne podre lá sobrando
enquanto todos nós formigas
reclamamos do que está faltando
carregamos nossas folhas
esperanças e desejos
as cigarras vão cantando
e as formigas trabalhando
a natureza afirmou
que o forte sobreviveria
mas que o fraco poderia
se tornar forte algum dia
quantas formigas são preciso
pra firmar bem os degraus
da escada imaginária
da realidade social
no fim, o discurso é hipnótico
as algemas é você que escolhe a cor
azul, vermelho, branco ou nulo
o poder de escolher sem mudar é todo seu
os tucanos que me assustam
tanto quanto os petralhas
todos rindo feito gralhas
as hienas se fartando
da carne podre lá sobrando
enquanto todos nós formigas
reclamamos do que está faltando
carregamos nossas folhas
esperanças e desejos
as cigarras vão cantando
e as formigas trabalhando
a natureza afirmou
que o forte sobreviveria
mas que o fraco poderia
se tornar forte algum dia
quantas formigas são preciso
pra firmar bem os degraus
da escada imaginária
da realidade social
no fim, o discurso é hipnótico
as algemas é você que escolhe a cor
azul, vermelho, branco ou nulo
o poder de escolher sem mudar é todo seu
terça-feira, 2 de setembro de 2014
Piada Mortal
''Lembra?
Oh, eu não faria isso. Lembrar é perigoso... eu vejo o
passado como um lugar cheio de ansiedade. O ‘’pretérito imperfeito’’, como você
chamaria. As memórias são traiçoeiras! Num momento você está perdido num
carnaval de prazeres, com o aroma da infância, os neons da puberdade. No outro
eles te levam a lugares onde a escuridão e o frio trazem a tona coisas que você
gostaria de esquecer.
Mas podemos viver sem elas? A razão se sustenta nelas. Não
encarar as memórias é o mesmo que negar a razão! Mas e daí? Quem nos obriga a
ser RACIONAIS?
Não há ‘’cláusula de sanidade’’!
Assim, quando você estiver dentro de um desagradável trem de
recordações, seguindo para lugares do seu passado onde o grito é insuportável,
lembre-se da loucura.
Loucura é a saída de emergência!
Você só precisa dar um passo para trás e fechar a porta com
todas aquelas coisas horríveis que aconteceram presas lá dentro, para sempre.
Tapar os olhos no trem fantasma não vale!
Ah, eu sei... você está confuso, apavorado... mas na sua
situação, quem não estaria? Sabe, apesar da vida ser um mar de rosas, você caiu
nos espinhos.
Quando o mundo está cheio de preocupações e todas as
manchetes gritam desespero, quando tudo é estupro, fome e guerra, bem... então
só há uma coisa certa a fazer:
Você deve sorrir!
Se começar a olhar as pessoas meio desconfiado, é sinal de
que está ficando inteiro pirado e tem mais! Se a barra estiver pesada, você
pode apelar pra uma cela acolchoada! Troque sua vida de agonia por uma cama e
injeções duas vezes ao dia! Ah, e não se esqueça... você deve ir sozinho e sem
medo! Quando o homem começar a se aniquilar, e as bombas caírem sem parar, e de
seu filho a face azul você vir, a melhor coisa a fazer é sorrir.
Se as pessoas não te compreenderem, não ligue. Vire as
costas, vá em frente, não brigue! Se disserem que você regula pouco, é porque
não sabem como é bom ser louco!
Isso é o que eu chamo de um trem fantasma!
Sabe, eu nunca boto a mão no fogo. Você tem que descobrir
isso no caminho das alucinações.
Senhoras e senhores! Vocês já o conheciam pelas manchetes
dos jornais! Agora tremam ao ver com seus próprios olhos o mais raro e trágico
dos mistérios da natureza! Apresento o HOMEM COMUM!
Físicamente ridículo, ele possui por outro lado, uma visão deturpada
de valores. Observem o seu repugnante senso de humanidade, a disforme
consciência social e o asqueroso otimismo. É mesmo de dar náuseas, não?
O mais repulsivo de tudo são suas frágeis e inúteis noções
de ordem e sanidade. Se for submetido a muita pressão, ele quebra! Então como
ele faz para viver? Como esse pobre e patético espécime sobrevive ao mundo
cruel e irracional de hoje? A triste resposta é: ‘’ Não muito bem!’’
Frente ao inegável fato de que a existência humana é louca,
casual e sem finalidade, um em cada oito deles fica piradinho! E quem pode culpa-los?
Num mundo psicótico como este, qualquer outra reação seria loucura!
Só é preciso um dia ruím para reduzir o mais são dos homens
a um lunático. Essa é a distância entre o mundo e eu... apenas um dia ruim.''
Texto declamado de forma majestosa pelo rei palhaço, O Coringa, na HQ ''A Piada Mortal'' escrita pelo grande Alan Moore e desenhada por Brian Bolland.
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
Lobo
O leite com chocolate
adoça minha boca
A lua está cheia
É uma pena que eu não possa me virar em lobo por conta disso
Fantástica a fantasia, hm?
Mamíferos sim, mas bem diferentes
O lobo pode ficar pelado
Correr o quanto queira por aí
Dormir quando lhe convém
Comer sem assar ou fritar
Comer o quanto quiser
Sem se preocupar com gordura trans ou se vai engordar
Uivar como se não houvesse amanhã
Quem vai reclamar ou chamar a polícia?
Não vai passar frio durante uma noite gelada
Pode sempre contar com os irmãos e semelhantes para tudo
Não vai ser morto sem um bom motivo por um semelhante
Ou roubado
Ou sequestrado
Também não passa grandes perrengues para achar uma parceira
Inclusive ao achar a parceira não vai ter dores de cabeça
por ciúmes e amenidades
Pode transar sem camisinha sem medo de ficar doente
Sem medo de não conseguir sustentar um filhote
Não vai ser morto sem um bom motivo por um semelhante
Ou dez
Não precisa prestar contas pra ninguém
Nem chefe
Nem Deus
Nem mãe
Nem esposa
O mundo é seu banheiro
O mundo é sua casa
A noite é sua
Dificilmente vai simplesmente adoecer
Mas também quando morrer não vai fazer seus queridos
chorarem
Lobos são fortes
Ser um lobo deve mesmo ser demais
Mas o lobo não tem chocolate no leite, nem quando é lobinho
Pobre lobo.
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
Pressa
Feito carne crua e nua
Desmedida
Ferro e fogo
Pau, pedra e fim do caminho
Eu sou a sombra
Você é o chão
Os gritos são mudos
Os olhos são cegos
O pulmão absorve pouco menos do que deveria
As mãos se contraem
As unhas chegam a cravar nas palmas
Tensão
Tesão
Desconforto
Minha consciência diz que tenho que me apressar
Uma voz chata
Aguda
Insistente
Persistente
Paro
Parar é como chacinar a voz
Risadas
Minhas?
segunda-feira, 19 de maio de 2014
Oração
Antes de tudo, agradeço.
Senhor da onisapiência e pai de todas as potências, eu te peço pra trazer
Paz, calma, amor e humildade, pra afastar toda maldade de perto de mim
Ao arquiteto das naçōes e ao criador das emoçōes, eu imploro que traga
Paciência e coragem e que me tire a vaidade do peito
Sei que não passei muito tempo conversando contigo
Mas acho que o criador deve ver na criatura um amigo
Talvez a minha ideia de você esteja toda errada
Mas sinto que enquanto houver sol ainda vou ter estradas
Para trilhar, para sonhar, para seguir e para me sentir pra frente
E sempre consciente de que o maior dos meus erros não foi nada pra você
Em dias de sede, faz chover
Em dias de luta, faz vencer
Em dias de choro, faz parar
Em dias de luto, faz passar
E mesmo quando eu não quiser acreditar em nada, e acredite vai acontecer, não se vá por favor
Por mais que eu odeie admitir, também preciso.
Obrigado pelos pássaros.
quarta-feira, 5 de março de 2014
..
Embonequei minhas melhores intenções nas palavras mais difíceis que pude pensar em usar, quis parecer grandioso e sábio, um poeta.
Empoemei todas as receitas de bolo que achei pela frente, não bastasse o açúcar naturalmente utilizado no preparo das guloseimas, ainda por cima adociquei tudo com minhas próprias palavras meladas.
Resolvi que não poderia escrever escorrido feito macarrão, separaria bloquinhos de frases sem pontuação para que parecesse mais artístico.
Nada de vomitar textos, pensaria no sentido do que gostaria de trazer a tona para quem quer que fosse ler, me prepararia para ser artista, sexo só com camisinha.
Além de tudo, achei que seria de bom gosto rimar: falar sobre céu e mar, sobre os afazeres do lar, sobre querer me jogar no infinito solar do sorriso molar de uma jovem que me fez parar e pensar em como é bom amar.
Me senti tosco, completamente perdido em exatidão, uniformidade, padrão, café com pão, arroz com feijão na casa do João.
Amaldiçoei as rimas rimando sem querer.
Mordi a língua.
O sangue empapou as maldições, mas tudo bem, elas já tinham seu destino certo e a força do pensamento já trabalhava como cúmplice de qualquer forma.
A língua latejava.
De certo que tentava se equiparar a cabeça, que estava se fervilhando de tanto desejar a prolixidade pra si, pobre coitada.
Doeu!
Sem chances para loucuras desmedidas de paixões caóticas, sem chance para mais palavrões, sem chance para monotonia desvairada, doeu mesmo, sério!
É o tipo de coisa que precisa acontecer ao menos uma vez na vida de todo aspirante do que quer que seja: a dor da desilusão, a clareza da verdade nua e crua aos olhos tristes da frustração. Isso te faz pensar e repensar.
Pensar é bom... planejar é bom, executar com perfeição é bom, cinza é bom, ordem é bom, organização é bom, regras são boas... Quero ser bom, afinal ser bom é bom... certo?
Desisti de tentar ser o que quer que fosse, bom ou ruim, poesia é um saco mesmo.
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
Morcegos
"Onde ele estava com a cabeça? Ele não me conhecia, mas se conhecesse ouso dizer que sua cabeça estaria em mim."
Tão louco ser verdade, lacinante e cheio de dores, ou ao menos melhor do que ser de mentira.
Morcegos aos montes, não sei bem a palavra que define o coletivo...
Por falta de termo técnico vou pelo popular: uma caralhada de morcegos, sugando as forças sem dó.
Criou os bichos durante anos, nem se dando muita conta do que estava fazendo. Alimentava de memórias mal aceitas, aceitações mal lembradas e cargas d'agua dos mais variáveis temas, sobretudo os próprios.
Não é por acaso.
Sempre gostou de sofrer, tornou desde cedo a melancolia artística. Asas demais pra pouco espaço, a ventania dos bateres fazia gelar a espinha. O coração quase chegou a congelar.
Terminar nunca foi o seu forte por algum motivo que não lhe pertencia o entendimento. Era sempre posto frente a frustração do recomeço, o lamento do fracasso e com mérito, sempre com mérito.
Apesar de reinar o mundo da retórica, não conseguia prestar real atenção e tão pouco dar o valor merecido às próprias amarguras. Do que importa sua opinião dentre outras bilhões por aí?
Um grão de mostarda poderia esmagar-lhe as ideias, tão fracas e apagadas de certeza. Não saber era uma constante insistente, todos os lados tinham sua coerência menos seu próprio.
Desculpa!
A culpa sempre foi, continua sendo e sempre será sua, mesmo que consiga ver culpa em qualquer outro que seja. Ou falhou por ter feito pouco, ou por ter exagerado, por talvez não ter ajudado o bastante ou mesmo ajudado demais.
Seres iluminados e detestados, todos aqueles que não estivessem na categoria de primeira pessoa do singular.Iluminados por estarem a uma distância (Deus queira) segura do seu escuro interior, odiadas por inveja do riso sem motivo, que em geral se poderia observar de qualquer João regular.
Odiava odiar.
Sonho manifesto era conseguir se enquadrar na segunda pessoa do plural ou o coletivo que fosse além da caralhada de morcegos sugadores de suspiro.
"Impossível ser feliz sozinho"
Ouviu centenas de vezes, entendia e concordava.
Odiava concordar, mas concordava com esse ódio.
Ser um é, e sempre vai ser melhor do que ser mais. Questão de practicidade, menos letras "s" e por conseqüência menos dor de cabeça.
Cada vez que tentava olhar para frente via fumaça e pontos finais, reticências gordas e malvadas. Três pontos finais para todos os lados, suruba de bolinhas pretas!
O apego e consolo é, foi e até então continua sendo a mesma coisa: pequenas coisas. Para além delas espera-se que tenha alimento o bastante para tantos morcegos, a fome é injusta para qualquer que seja.
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Blábláblática
Enquanto a vida passa correndo pelo cenário, os movimentos de seus
olhos continuam lentos e cadenciados. É realmente muito frio no limbo
entre a sensata sobriedade e os ares altos de uma boa viagem. Enquanto
isso, acredito que cada um dos protagonistas, de cada uma das peças
improvisadas da vida, continua achando que sua estrela brilha mais do
que o próprio sol que o mantém aquecido.
Se enrolam em mantos de vaidade e egocentrismo, sem prestar muita atenção que no fim, os tons de verde só são variações de uma paleta de cores completamente limitada. Afinal, se todos os caminhos que eu peguei já estavam para acontecer de qualquer forma, só dependendo de reações minhas e nada menos do que isso, qual o grande lance sobre individualidade?
Engraçado pensar no assunto.
Na verdade, engraçado pensar e engraçado quem pensa sobre isso. Imagine que ao olhar para o lado, você pode facilmente se deparar com um outro antro de pensamentos e filosofias, um novo mundo, um universo inteiro circulando dentro de um corpo físico biologicamente muitíssimo parecido com o seu próprio corpo. A diferença entre nós todos, que somos tão iguais, é gritante! Gritante a ponto de ensurdecer as melodias da identificação.
Quem sou eu?
Quero ser eu mesmo ou quero ser tão bom como o outro? Ou talvez exatamente como o outro?
_Estacione na vaga da dúvida. Pare e sente, reflita e chegue a conclusão mais óbvia de todas as conclusões: Conclusão nenhuma.
Óbvio.
Óbvio como a obviedade pode ser, dura como a realidade pode ser, baseada na lei universal e irrevogável da relatividade absoluta de todos os pontos. Relatividade na limitação abstrata, porém presente, que dita a regra de que todas as alternativas são realmente possíveis por pelo menos um percentual mínimo de chance, sendo assim então planejáveis, e por tanto previsíveis.
Um nó realmente difícil de desatar acaba de nascer na cabeça.
Que cabeça?
Uma semente de dúvida que foi plantada fundo e foi muito bem regada, adubada por uma metralhadora de merda que ecoa por aí, vindo das mais diversas bocas. Cresceu, cresceu e agigantou mais ainda, chegando praticamente ao tamanho absurdo da falta de autoconfiança que um ser humano capaz pode ter.
Como você pode deixar de confiar em si? Você sabe que é maior do que todo o resto? Todo o mundo?
Todo mundo é ou todo mundo sabe?
Mas afinal de contas, você é protagonista do seu próprio seriado de TV (pra não deixar de ser piegamente clichê), como pode o protagonista dar errado e acabar mal na história?
POR MAIS QUE SE FODA, NO FIM VAI TER UMA LIÇÃO DE MORAL LINDA, UM CASAMENTO E TODOS OS PERSONAGENS DE TODAS AS TRAMAS REUNIDOS RINDO EM CÂMERA LENTA! EU SEI QUE SIM, JÁ VI ISSO MILHARES DE VEZES OU PELO MENOS UMA VEZ POR ANO NO FIM DA NOVELA.
CERTO?
certo.
Bom, chegamos ao ponto crítico em que foram tantas flechadas de tantos lados que o alvo vermelhobrancovermelhobrancovermelhobranco já está entupido de pontas. Já não suporta mais pedaços de pau pontudos, críticas construtivas, críticas infundadas, pitacos, conselhos ou café.
NÃO TEM ESPAÇO.
Nem pra choro e nem pra vela! Chega de formigas no meu bolo, de colegas pro meu pacote de bolacha ou de impostos para o dinheiro que eu ganho.
Chegamos em uma hora realmente difícil, uma hora em que contar as horas é hábito por ter que saber lidar com a distribuição das mesmas. Pouco tempo, pouco proveito, muita carga mas pouca carroça.
Falou tudo o que quis, falei, falou sem dó e sem se importar com o sentido do que quer que estivesse querendo dizer, falei. Sabia que no fim do texto alguém dentre as dezenas que levantaram os ombros e pensaram ''que cara maluco, devia estar chapado'', algum ser de divina compreensão e no alto de sua excelência intelectual, pelo menos um ser humano dentre 7 bilhões que poderiam acabar se deparando com as palavras digitadas, ao menos um infeliz entenderia sua linha de raciocínio caótica e aleijada de vírgulas.
Santa conivência!
O cenário continua correndo, rapidinho feito o 16x do vídeo. A música parece se adequar ao momento, e de uma forma realmente bizarra a cacofonia de barulhos urbanos acompanha em trilha cada pensamento de ódio, fadiga ou canseira. Odiamos todos até que se prove o contrário por mérito de simpatia, consideramos o rebanho desnecessário além do próprio ciclo, esquecemos de pensar nos vários universos particulares. São bilhões de cabeças, bilhões de histórias.
Pouco me importa o além do horizonte, só posso ver até o fim da reta... se atrás da linha houver alguém pensando de forma carinhosa sobre mim e rezando para o meu bem, que estou do lado oposto, santificado seja o mesmo apesar da apatia continuar.
Digo amém para sua reza, independente de que fé seja. Só não me peça atenção, vou continuar concordando no automático por desinteresse, impaciência ou falta de vontade.
Mais um amém pro saco cheio de farinha, do pó viemos e para o pó retornaremos.
Se enrolam em mantos de vaidade e egocentrismo, sem prestar muita atenção que no fim, os tons de verde só são variações de uma paleta de cores completamente limitada. Afinal, se todos os caminhos que eu peguei já estavam para acontecer de qualquer forma, só dependendo de reações minhas e nada menos do que isso, qual o grande lance sobre individualidade?
Engraçado pensar no assunto.
Na verdade, engraçado pensar e engraçado quem pensa sobre isso. Imagine que ao olhar para o lado, você pode facilmente se deparar com um outro antro de pensamentos e filosofias, um novo mundo, um universo inteiro circulando dentro de um corpo físico biologicamente muitíssimo parecido com o seu próprio corpo. A diferença entre nós todos, que somos tão iguais, é gritante! Gritante a ponto de ensurdecer as melodias da identificação.
Quem sou eu?
Quero ser eu mesmo ou quero ser tão bom como o outro? Ou talvez exatamente como o outro?
_Estacione na vaga da dúvida. Pare e sente, reflita e chegue a conclusão mais óbvia de todas as conclusões: Conclusão nenhuma.
Óbvio.
Óbvio como a obviedade pode ser, dura como a realidade pode ser, baseada na lei universal e irrevogável da relatividade absoluta de todos os pontos. Relatividade na limitação abstrata, porém presente, que dita a regra de que todas as alternativas são realmente possíveis por pelo menos um percentual mínimo de chance, sendo assim então planejáveis, e por tanto previsíveis.
Um nó realmente difícil de desatar acaba de nascer na cabeça.
Que cabeça?
Uma semente de dúvida que foi plantada fundo e foi muito bem regada, adubada por uma metralhadora de merda que ecoa por aí, vindo das mais diversas bocas. Cresceu, cresceu e agigantou mais ainda, chegando praticamente ao tamanho absurdo da falta de autoconfiança que um ser humano capaz pode ter.
Como você pode deixar de confiar em si? Você sabe que é maior do que todo o resto? Todo o mundo?
Todo mundo é ou todo mundo sabe?
Mas afinal de contas, você é protagonista do seu próprio seriado de TV (pra não deixar de ser piegamente clichê), como pode o protagonista dar errado e acabar mal na história?
POR MAIS QUE SE FODA, NO FIM VAI TER UMA LIÇÃO DE MORAL LINDA, UM CASAMENTO E TODOS OS PERSONAGENS DE TODAS AS TRAMAS REUNIDOS RINDO EM CÂMERA LENTA! EU SEI QUE SIM, JÁ VI ISSO MILHARES DE VEZES OU PELO MENOS UMA VEZ POR ANO NO FIM DA NOVELA.
CERTO?
certo.
Bom, chegamos ao ponto crítico em que foram tantas flechadas de tantos lados que o alvo vermelhobrancovermelhobrancovermelhobranco já está entupido de pontas. Já não suporta mais pedaços de pau pontudos, críticas construtivas, críticas infundadas, pitacos, conselhos ou café.
NÃO TEM ESPAÇO.
Nem pra choro e nem pra vela! Chega de formigas no meu bolo, de colegas pro meu pacote de bolacha ou de impostos para o dinheiro que eu ganho.
Chegamos em uma hora realmente difícil, uma hora em que contar as horas é hábito por ter que saber lidar com a distribuição das mesmas. Pouco tempo, pouco proveito, muita carga mas pouca carroça.
Falou tudo o que quis, falei, falou sem dó e sem se importar com o sentido do que quer que estivesse querendo dizer, falei. Sabia que no fim do texto alguém dentre as dezenas que levantaram os ombros e pensaram ''que cara maluco, devia estar chapado'', algum ser de divina compreensão e no alto de sua excelência intelectual, pelo menos um ser humano dentre 7 bilhões que poderiam acabar se deparando com as palavras digitadas, ao menos um infeliz entenderia sua linha de raciocínio caótica e aleijada de vírgulas.
Santa conivência!
O cenário continua correndo, rapidinho feito o 16x do vídeo. A música parece se adequar ao momento, e de uma forma realmente bizarra a cacofonia de barulhos urbanos acompanha em trilha cada pensamento de ódio, fadiga ou canseira. Odiamos todos até que se prove o contrário por mérito de simpatia, consideramos o rebanho desnecessário além do próprio ciclo, esquecemos de pensar nos vários universos particulares. São bilhões de cabeças, bilhões de histórias.
Pouco me importa o além do horizonte, só posso ver até o fim da reta... se atrás da linha houver alguém pensando de forma carinhosa sobre mim e rezando para o meu bem, que estou do lado oposto, santificado seja o mesmo apesar da apatia continuar.
Digo amém para sua reza, independente de que fé seja. Só não me peça atenção, vou continuar concordando no automático por desinteresse, impaciência ou falta de vontade.
Mais um amém pro saco cheio de farinha, do pó viemos e para o pó retornaremos.
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Salmoura
Deixou de molho em salmoura, morna e limpa toda a carapaça dura e inflexível. Parecia impossível amolecer, mas a falta de perspicácia para tratar assuntos inacabadamente perigosos fez milagre, e como.
O passageiro trevoso e triste observou de longe, no alto de sua imparcialidade. Não queria despertar suspeitas para um ou outro de que poderia voltar a qualquer momento, na verdade tinha medo de não conseguir passagem novamente.
Todo o olhar felino fazia gelar a espinha, ao mesmo tempo que a sinuosidade das curvas (bem feitas demais para quem come tanta porcaria) esquentava até quase o ponto de ebulição qualquer coisa que estivesse dentro do peito, inclusive o aclamado coração.
Tive medo de não conseguir novamente, mas nunca soube até agora exatamente o que.
Não, eu sabia sim, ou melhor: sei.
A carnavália foi usada de desculpa das mais esfarrapadas para reaproximar os sonhos. Todos sabiam, mesmo que ninguém quisesse declarar, mas no fim o ímpeto venceu o bom senso.
Aqueles dias haviam sido maravilhosos e despertaram fantasmas escabrosos ao serem relembrados. Mas tudo certo, não é todo dia que dois exemplos de cabeça dura se chocam até abrir fenda.
Em cada poro e espaço vazio dos corpos houve invasão, era uma onda reconfortante e perturbadora por sua força.
Tudo deu certo, como não poderia deixar de ser.
Saliva, suor, unhas e dentes, calor e umidade, pulsação de membros e de falta de membros, uma verdadeira bacanal de sentidos maliciosos. Toda a prolixidade dos discursos era feita por capricho e nada mais. Rebuscava-se as sentenças para impressionar, tanto um como outro, eram leitores frenéticos de literatura corpórea, aqueles textos lacinantes e tão pessoais que tornam a vida de quem escreveu uma verdadeira epopéia.
Faltaram poucas linhas antes da noite acabar, mas a obra conseguiu ser terminada com o sol do dia seguinte, ainda envoltos de lençol, pêlos e cabelos, além é claro de alguns fluídos criadores de vida.
A saudade estava disfarçada esse tempo todo dentro da casca dura, de um e de outro. Ela vinha de peitos orgulhosos e bonitos e de olhos tristes por temporada.
Santa salmoura!
Seu jeito de ler obras intangíveis era fantástico aos olhos, o mestre deve realmente ter orgulho, eu mesmo tive.
Descobrir a beleza de categorizar todo um relacionamento melodramático como dramaturgia, era tão óbvio antes que nem chegamos a cogitar a hipótese.
Mesmo cego como um morcego podia ver a quantidade exorbitante de sentimento investido.
Não era a primeira vez que lhe escrevia sentimentalidades, mas era a estréia de um novo modo de sentir, muito mais certo de si.
Não ande descalça, não deixe de se secar, use os malditos óculos pra variar.
Dentro de calças feias e largas demais estava claro e óbvio o desejo que sentia, mas ainda assim não era mais libido do que carinho.
Provavelmente ao morder a língua sentiu culpa de não ter feito tudo o que podia, mas o outro lado estava declarando fim de jogo na época.
Passou, não poderia ter dado certo começando no dia da mentira. Claro que não foi uma data intencional e tão pouco havia superstição em seus corações, mas o peso simbólico acabou se fazendo presente.
"Temos todo o tempo do mundo" - era o que dizia o ídolo chato da parte felina, eu mesmo sempre achei sua arte supervalorizada, mas tenho que concordar com a citação.
O passageiro trevoso e triste resolveu tirar férias, se isolar num deserto junto de um dromedário morto e pouco mais de mil carros vermelhos, além de uma xota flutuante. Fique por aí, te pago um sanduíche e coca zero.
Pra bom entendedor nem sequer palavras são preciso.
Ah, o amor.
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